A arte de viver dos estoicos

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Esta semana, ouvi o filósofo Clóvis de Barros dizer que o estoicismo está em alta. Seus ensinamentos sensatos acerca da vida, destacando a importância da prática das virtudes morais para alcançar uma vida plena e saudável chega a nos inspirar. Contudo, em meio a uma sociedade contemporânea que muitas vezes prioriza valores morais centrados no benefício individual, em detrimento do bem-estar coletivo, a filosofia estoica parece mais uma utopia.

Sempre gostei de filosofia – e de filosofar -, mas, depois de ganhar uma coleção de filósofos com ensinamentos baseados no estoicismo, resolvi falar um pouco sobre o tema.

O estoicismo é uma filosofia antiga que ensina como viver uma vida boa e feliz, mesmo diante das adversidades. Os estoicos acreditam que podemos controlar nossas reações às situações, mesmo que não possamos controlar os eventos em si. Eles valorizam a virtude, a razão e a aceitação das coisas que não podem ser mudadas. Em resumo, o estoicismo nos encoraja a focar no que podemos controlar, a ser corajosos diante das dificuldades e a buscar a serenidade interior, independentemente das circunstâncias externas. Os filósofos mais conhecidos que difundiram o estoicismo são Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio.

Mas, afinal, o que o estoicismo pode nos ensinar? Talvez que a vida seja um presente, em um tempo presente, e, para dispor bem dela, devemos praticar a sabedoria dos antigos filósofos. O que isso quer dizer? Que a arte de viver se resume à busca por uma vida virtuosa, tranquila e feliz, independentemente das circunstâncias externas. Isso também quer dizer que cada um de nós tem um papel a desempenhar nessa missão, que somos parte dela, e, portanto, parte de um todo que não tem como dar certo sem unidade.

Comecei a ler sobre filosofia ainda no ensino médio, e depois de vinte anos, voltei à ciência da razão pelo pensar, questionar, querer, saber, aprender. É assim que eu a vejo. Filosofar para mim é como encontrar respostas para questões que, muitas vezes, não têm respostas, mas que, de alguma forma, se encaixam em nossa vida. Afinal, cada um tem sua própria perspectiva. Isso não quer dizer que o ser humano seja livre a ponto de impor suas próprias vontades em detrimento do outro – isso vai contra o estoicismo -, mas entender que só você é capaz de realizar a própria vida em busca da própria satisfação. Isso inclui cinco passos, que resumi da seguinte forma: sabedoria, dignidade, respeito, coragem e humildade.

Sabedoria para distinguir o certo do errado. Dignidade para viver uma vida plena, saudável e feliz. Respeito às leis da natureza, da sociedade e do universo, para viver em equilíbrio. Coragem para enfrentar as adversidades que a vida traz. Porque ser feliz envolve aceitar as circunstâncias e modificá-las para o bem. E, finalmente, humildade para viver em harmonia, e realizar as quatro virtudes acima, pois ninguém tem o controle do universo nas mãos. Mas tem o poder de mudar o mundo, se quiser.

O primeiro livro que li dessa coleção foi Sobre a brevidade da vida, do filósofo Sêneca. Em seguida, A arte de viver, por Epiteto. O terceiro, leio diariamente, pois são 365 reflexões estoicas, com lições diárias para uma vida plena, ensinadas e adotadas por Marco Aurélio, Sêneca e Epiteto, entre outros.

Sobre a brevidade da vida é uma obra filosófica que explora a natureza efêmera da existência humana. Por meio de cartas, Sêneca argumenta que muitas pessoas desperdiçam seu tempo em atividades fúteis e não percebem a verdadeira brevidade da própria vida. O filósofo destaca a importância de viver de maneira consciente, buscando a sabedoria e a virtude, e enfatiza a necessidade de aproveitar o presente momento. Ele adverte contra adiar a busca pela verdadeira realização e felicidade, promovendo uma reflexão sobre a finitude do tempo e a importância de viver uma vida significativa e plena.

A Arte de Viver, de Epiteto, é uma obra central no estoicismo, onde o filósofo destaca, em 50 ensinamentos, a importância de aceitar o que não pode ser mudado e focar no controle sobre as próprias reações e escolhas. Epiteto enfatiza a necessidade de viver em conformidade com a natureza, cultivando virtudes como a coragem, a sabedoria e a temperança. Ele argumenta que a verdadeira liberdade reside na capacidade de controlar as próprias opiniões e desejos, independentemente das circunstâncias externas. A obra fornece orientações práticas sobre como alcançar uma vida plena, centrada na razão, na ética e na serenidade, promovendo uma abordagem estoica para enfrentar os desafios da existência.

Para concluir a coleção de estoicos, falta ler Meditações, de Marco Aurélio, e Um café com Sêneca, que comentarei aqui, em breve.

Para efeito de curiosidade, fiz uma pesquisa sobre os principais filósofos estoicos, listados por ordem cronológica:

  1. Zenão de Cítio (334 a.C. – 262 a.C.): Fundador da escola estoica, desenvolveu os princípios iniciais dessa filosofia em Atenas.
  2. Cleantes de Assos (331 a.C. – 232 a.C.): Sucessor de Zenão, contribuiu para o desenvolvimento e a disseminação do estoicismo.
  3. Crísipo de Solos (280 a.C. – 206 a.C.): Desenvolveu e expandiu as ideias estoicas, consolidando muitos dos princípios dessa filosofia.
  4. Panaetius de Rodes (185 a.C. – 110 a.C.): Introduziu modificações na doutrina estoica, aproximando-a de ideias mais ecumênicas.
  5. Posidônio (c. 135 a.C. – 51 a.C.): Filósofo estoico que seguiu a tradição, com contribuições significativas para a ética e a física.
  6. Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.): Embora tenha vivido durante o período romano, Sêneca foi influente na disseminação das ideias estoicas, especialmente por meio de suas cartas e ensaios.
  7. Epiteto (c. 50 d.C. – 135 d.C.): Escravo liberto, destacou-se por suas obras, especialmente “Enchiridion” (Manual) e “Discursos”.
  8. Marco Aurélio (121 d.C. – 180 d.C.): Último dos “Cinco Bons Imperadores” de Roma, suas reflexões pessoais foram compiladas em “Meditações” e refletem princípios estoicos.

Esses filósofos desempenharam papéis cruciais na formação e expansão do estoicismo ao longo dos séculos, deixando um legado duradouro na história da filosofia. Cada um, a seu tempo, foi responsável por construir uma forma de pensar baseada não só na reflexão, mas na fusão entre razão e emoção, entre o querer e o saber, o questionar e o transformar. Isso tudo para dizer que a vida é um presente, e, como tal, deve ser respeitada, de todas as maneiras possíveis, enquanto dela nos apropriarmos. Pois quando esta acabar, nada mais importará para quem se for, mas significará muito para quem continuar…

Em suma, a filosofia estoica nos convida a valorizar o presente, a conduzir nossas vidas com sabedoria e a reconhecer a importância de respeitar, dignificar, enfrentar desafios com coragem e cultivar humildade. Cada momento é uma dádiva que, ao se esgotar, torna-se o legado que vamos deixar…

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