As funções do Amor

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Os Quatro Amores é uma obra de C.S. Lewis que explora os diferentes tipos de amor e como eles se manifestam nas relações humanas.

Afeição

A afeição é o primeiro amor explorado por Lewis. Ele descreve esse tipo de amor como aquele que se desenvolve em ambientes familiares e cotidianos, baseado na familiaridade, na proximidade e no cuidado mútuo entre pais e filhos, irmãos e outros parentes. A afeição se manifesta nas interações do dia a dia e nas relações duradouras, oferecendo um senso de segurança e pertencimento.

O amor da Afeição é o amor mais humilde e difundido, presente tanto entre humanos quanto animais. Tem a ver com instinto, mas, nem por isso, esse tipo de amor é menos valioso por sua simplicidade. Ele exemplifica a Afeição através da relação maternal entre mãe e filhotes, onde tanto o cuidado quanto a necessidade são evidentes. A Afeição se estende além das relações familiares, abrangendo uma gama variada de objetos e indivíduos, independentemente de características como beleza ou inteligência. Lewis destaca que a Afeição não busca impressionar e muitas vezes é discreta, encontrando expressão em momentos simples e cotidianos. Além disso, ele observa que a Afeição pode transcender as preferências pessoais, unindo pessoas que, de outra forma, jamais teriam conexão, e, com o tempo, ensinando-nos a apreciar qualidades independentemente de nossas idiossincrasias pessoais.

Amizade

A amizade é celebrada por Lewis como uma forma especial de amor baseada na camaradagem, na confiança e na lealdade entre amigos. Ele ressalta a importância da amizade genuína, que vai além das conveniências e interesses pessoais, oferecendo apoio mútuo, compreensão e companheirismo. A amizade é valorizada por sua capacidade de enriquecer nossas vidas e proporcionar conexões profundas e significativas.

Na visão de C.S. Lewis, a Amizade é um amor muitas vezes negligenciado na sociedade moderna, ofuscada pelo Eros e pela Afeição. Enquanto o Eros e a Afeição têm sido enfatizados repetidamente, a Amizade foi relegada a um papel secundário. Lewis argumenta que a Amizade é o menos natural dos amores, pois não é impulsionada por instintos biológicos como a procriação ou a sobrevivência do grupo. No entanto, ele destaca que a Amizade é o amor mais humano e feliz, uma coroa da vida e uma escola da virtude. Ao longo da história, a Amizade foi valorizada por sua independência em relação à natureza e à emoção, mas foi gradualmente diminuída em importância com a ascensão do Romantismo e a exaltação do Sentimento. Lewis refuta a teoria de que toda amizade é, de fato, homossexual, argumentando que os Amigos compartilham uma conexão mais profunda e menos ciumenta do que os amantes. Ele ressalta que a Amizade surge da atividade compartilhada e do companheirismo em torno de interesses comuns, não apenas da busca por amigos. A verdadeira Amizade não é apenas uma busca por companhia, mas sim um compartilhamento de visões e interesses comuns, que pode se transformar em um amor profundo e enriquecedor.

Eros

O Eros é o amor romântico e apaixonado, caracterizado pela atração física, emocional e sexual entre parceiros. Lewis explora a intensidade e a profundidade desse tipo de amor, destacando suas emoções ardentes e sua capacidade de elevar e transformar as vidas dos amantes. Eros é muitas vezes associado ao desejo, à paixão e à busca pela união íntima e completa com o outro.

Na obra de C.S. Lewis, a visão do amor Eros e Vênus é apresentada como uma análise profunda das complexidades do amor romântico e da sexualidade humana. Lewis distingue o Eros como um estado emocional que vai além da mera sexualidade, definindo-o como a busca apaixonada e exclusiva pela pessoa amada, em contraste com Vênus, que representa a sexualidade em seu sentido mais direto e físico. Ele explora as dimensões morais e espirituais do Eros, reconhecendo sua importância na vida humana, mas alertando para os perigos da idolatria e da seriedade excessiva atribuída à sexualidade. Lewis ressalta que o verdadeiro amor Eros, quando bem compreendido e direcionado, transcende o egoísmo e se torna um reflexo do amor divino, mas adverte que, sem uma orientação adequada e sem a devida consideração pelas responsabilidades e compromissos do casamento, o Eros pode se transformar em uma força destrutiva e tumultuosa que traz mais sofrimento do que felicidade. Assim, Lewis enfatiza a importância de uma abordagem equilibrada e humilde em relação ao amor romântico, reconhecendo suas profundezas e perigos, mas mantendo uma perspectiva clara sobre suas limitações e exigências.

Caridade

Caridade, ou Ágape, é o amor divino e incondicional que transcende as relações humanas e é considerado o amor supremo por Lewis. Ele descreve a caridade como um amor altruísta, generoso e desinteressado, que busca o bem-estar e a felicidade dos outros sem esperar nada em troca. A caridade é vista como a expressão mais elevada do amor, capaz de transformar vidas e inspirar ações de bondade e compaixão.

O amor caridade para Lewis é uma forma de amor que transcende os amores naturais e se torna a totalidade da vida cristã em uma relação específica. Ele descreve que o amor natural, por si só, não é suficiente e precisa ser complementado pela bondade e pela vida cristã. Lewis destaca que a real glória do amor caridade está em sua capacidade de limpar, podar e cuidar dos amores naturais, elevando-os para um nível mais elevado de virtude e beleza. Ele argumenta que o amor caridade implica em colocar Deus acima de todos os outros amores terrenos e em aceitar os sofrimentos inerentes ao amor como parte de nosso propósito. Lewis reconhece que alcançar esse amor pode ser desafiador e incerto, mas é uma jornada que vale a pena, pois é onde reside a verdadeira plenitude da vida humana e angelical. O autor conclui que, embora ele próprio possa não ter experimentado completamente esse amor, reconhece sua importância e aspira por ele, sugerindo que essa busca é uma das mais nobres empreitadas da existência humana.

Estes quatro tipos de amor explorados por C.S. Lewis oferecem uma compreensão abrangente e profunda das complexidades e das riquezas das relações humanas, convidando o leitor a refletir sobre o significado e a importância do amor em sua própria vida, buscando alcançar o amor dádiva, ou seja, visando o bem supremo do outro, sem se restringir às necessidades e desejos pessoais.

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