O Segredo do Divã

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O divã está para a psicanálise, assim como a poltrona está para a sessão de cinema.

Quem não gosta de assistir um filme numa poltrona reclinável, num ambiente confortável, escuro e climatizado? Todas essas características fazem a experiência no cinema muito mais intensa e verdadeira. Acredito que o uso do divã na terapia tenha um propósito semelhante, à medida que oferece uma sensação de relaxamento, conforto e segurança para o sujeito se expressar.

Deitar no divã – seja de lado, de costas ou de frente para o psicanalista -, pode trazer vários benefícios para a análise, a começar pela liberdade do sujeito em se expressar sem se sentir julgado, observado ou embaraçado. Além disso, o analista pode ficar mais à vontade para observar suas falas e reações, como a intensidade da voz, as pausas no diálogo, os gestos das mãos, enfim, tudo que ele comunica de forma verbal e não-verbal.

Além desses benefícios, o uso do divã na psicanálise também traz outras vantagens importantes. Por exemplo:

  1. Introspecção: ao deitar-se no divã, o sujeito pode se concentrar mais profundamente em seus pensamentos e sentimentos internos, facilitando a reflexão e a autoanálise.
  2. Relaxamento: o distanciamento físico do terapeuta, proporcionado pelo divã, pode diminuir a autoconsciência do sujeito, permitindo-lhe explorar questões pessoais de forma mais autêntica e menos influenciada pela presença do outro.
  3. Acesso ao inconsciente: a posição reclinada no divã pode estimular a mente do sujeito a criar imagens mentais mais vívidas e a acessar conteúdos inconscientes de forma mais espontânea, favorecendo a análise simbólica.
  4. Conforto: o suporte do divã oferece uma posição relaxante para o corpo, o que pode ajudar o sujeito a se sentir mais confortável durante as sessões e a concentrar-se melhor em seus pensamentos e emoções.
  5. Confiança: sem a necessidade de olhar diretamente para o terapeuta, o sujeito pode se sentir confiante, promovendo uma relação terapêutica mais amigável e colaborativa.
  6. Associação livre: a posição deitada no divã pode facilitar a prática da associação livre, a base da psicanálise, encorajando o sujeito a expressar livremente seus pensamentos e associações sem censura ou autocensura.

O uso do divã é estratégico e permite que o sujeito se expresse livremente, facilitando a manifestação dos conteúdos inconscientes de forma mais fluída e genuína, promovendo uma maior compreensão de si mesmo e de suas dinâmicas internas.

Com a ajuda dessa e outras técnicas, o analista pode cumprir verdadeiramente o seu papel, ouvindo, investigando e interpretando os conteúdos inconscientes que emergem na fala do paciente. Ao se sentir mais confortável e protegido no espaço do divã, o sujeito se abre para explorar suas emoções e experiências mais profundas, possibilitando, assim, um processo terapêutico mais eficaz e transformador.

Se, mesmo assim, o sujeito não se sentir à vontade com o divã, o psicanalista pode optar pelo sofá ou a poltrona, se isso trouxer mais alívio. Afinal, é importante que ambos sintam-se confortáveis antes de dar início ao “desconforto” da investigação psíquica. M…

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