O Bem vence o Mal

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Este livro é curto, mas com uma mensagem profunda e analítica. Indicada pelo meu professor de psicanálise, Welson Barbato, a obra traz um diálogo entre Deus e o diabo, lembrando um pouco ‘Cartas de um diabo ao seu aprendiz’, de C.S. Lewis.

Neste conto de Machado de Assis, o inimigo de Deus o procura para contar-lhe uma novidade: a construção de sua igreja. Sem parecer preocupado, Deus permite que ele faça o que deseja e tire suas próprias conclusões…

Segundo o professor, a obra traz uma analogia com o pensamento freudiano acerca da essência da natureza humana que vale a pena interpretar…

No conto, o anjo caído funda uma igreja onde as pessoas podem adorar a si mesmas e usufruir dos seus pecados, sem se sentirem julgadas ou culpadas. Sua ideia é incentivar a busca pelo prazer pessoal e satisfação dos desejos individuais, pois só assim poderá possuir suas almas. Uma ideia boa, não fosse a complexidade do ser humano.

Machado de Assis explora com maestria a natureza contraditória da psique humana, onde os personagens oscilam entre comportamentos opostos e contraditórios, à medida que se sentem satisfeitos individualmente, despertando outros sentimentos, como a compaixão pelo próximo. Essa dualidade lembra que Freud já dizia que o ego é motivado pelo princípio do prazer, uma busca incessante pela realização dos desejos, evitando, assim, sentir destrazer. Uma teoria que deu origem à divisão da nossa psique em id, ego e superego, onde desejos instintivos entram em conflito com normas sociais e morais. É exatamente isso que acontece no conto. Uma vez satisfeito, o sujeito volta a sentir as mesmas emoções de antes, não sendo suficiente viver de prazeres.

Outro ponto que explica a teoria de Freud na obra é a analogia entre Deus e a Psicanálise. Assim como Deus parece entender as imperfeições dos homens, a psicanálise também busca trazer aceitação e compreensão, permitindo que o sujeito viva em paz com sua natureza complexa. Enfim, a obra converge com o pensamento freudiano em vários aspectos, mostrando que Deus é complacente e o inimigo intolerante, por não compreender nossas motivações. Eis um paradoxo do ser humano: conciliar prazer e penitência, desejo e moral, explorando a luta constante para aceitar suas contradições…

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