Para cada regra, uma reação

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Vivemos em uma sociedade marcada por uma crescente onda de normas e regulamentações. Entretanto, quanto mais tentamos criar estruturas para orientar nossas ações, mais aumenta nossa insatisfação. Essa aparente contradição revela uma verdade incômoda sobre a natureza humana: quanto mais regras estabelecemos, mais as pessoas parecem desejar, exigir, resistir e reagir.

A criação de normas visa, muitas vezes, estabelecer limites e diretrizes que facilitem a convivência em sociedade. No entanto, paradoxalmente, a impressão que tenho é que, à medida que essas regras são postas em prática, surgem novas demandas, novas expectativas. Cada regulamento adicionado é como uma semente plantada, pronta para florescer com novas exigências.

A explicação para esse fenômeno pode residir na própria psicologia humana. À medida que as regras se multiplicam, as pessoas tendem a enxergá-las não como instruções necessárias, mas como desafios a serem superados ou quebrados. Tudo é pessoal. O espírito de competição e resistência entra em cena, alimentando um ciclo incessante de demandas crescentes.

Isso me fez lembrar uma reflexão do filósofo e escritor Clóvis de Barros, que destaca a ineficiência de seus esforços e tentativas como pensador, filósofo, escritor e palestrante para mudar o modo de pensar e viver em sociedade. Afinal, após tantos séculos de mudanças e evolução, permanecemos numa sociedade egoísta, elitista e arrogante (não com essas palavras). Ou seja, mesmo diante de todos os avanços e esforços, persistimos em tratar uns aos outros com superioridade, arrogância e desprezo. Essa atitude cria um terreno fértil para a intolerância, uma vez que cada regra imposta é interpretada não como uma tentativa de promover a harmonia, mas como uma oportunidade para reivindicar superioridade sobre os outros.

A intolerância, assim, torna-se um ciclo autossustentável. Quanto mais se tenta impor normas, mais as pessoas resistem, usando essas regras como justificativa para suas próprias exigências. A polarização e a falta de compreensão mútua florescem nesse ambiente, criando um terreno hostil para o verdadeiro entendimento e cooperação.

É crucial reconhecer a necessidade de regras e normas para manter a ordem social, mas é igualmente importante estar ciente dos riscos associados a uma abordagem excessiva dessas normas. Pois, quanto mais geramos regras, criamos e impomos mais regras para justificar nossas ações. Porém, a verdadeira mudança não virá apenas de regulamentos e imposições, e sim da promoção de uma cultura de respeito mútuo, empatia e compreensão. Não somos criaturas para viver isoladas. Somos seres humanos e, portanto, desde o nosso nascimento, dependemos do outro para desenvolver nossas capacidades físicas, mentais e humanas. Dependemos da sociedade para viver bem e em harmonia. Pois, como diziam os grande filósofos estoicos, não há paz individual sem um bem-estar coletivo.

Assim, enquanto caminhamos em convivência com os outros e o mundo que compartilhamos, é essencial questionar constantemente a natureza das regras que criamos e a maneira como as aplicamos, sem olhar apenas para si. Pois, somente através do equilíbro, humildade e respeito mútuo, podemos esperar quebrar o ciclo interminável da intolerância que assombra nossa sociedade…

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